ENXERGAVA TUDO PRETO, PONTILHADO COMO SE TIVESSE CAIDO EM UM APARELHO FORA DO AR, CHAPISCADO CALEIDOSCÓPIO NEGRO DE VERÃO. SENTADA NO BARCO CONTINUEI IMÓVEL DE CORPO, POR QUE A MENTE TINHA A VORAZ ÂNSIA DE ESCREVER QUALQUER COISA, QUALQUER LINHA ABSURDA, DESNUDA, AGUDA , FELPUDA, CASACUDA, LÍRICA, TESUDA, CARNUDA, DUVIDOSA, ASQUEROSA, SEI LÁ...

domingo, 31 de março de 2013

O Cosmonauta Russo


Another Earth: The Russian Cosmonaut


O primeiro homem a chegar ao espaço foi russo e não americano como a maioria pensa. A Rússia venceu o EUA nessa viagem à Lua. O Cosmonauta Russo foi o primeiro homem a ver o planeta que vivia de fora para dentro, a enfrentar a imensidão do espaço. Partiu em uma nave enorme, mas o compartimento em que viajava era bem pequeno, minúsculo em relação à nave; um armário. Ele não se importava com isso, sentia-se pleno. Aquela era a experiência única da sua vida, na verdade, era a experiência única de várias vidas que depositaram no viajante um mundo de sonhos e expectativas. Depois do dia em que o primeiro homem partiu para a Lua, nada foi como antes. A visão da Terra mudou para sempre, a vastidão do espaço inalcançável seria repensada. O Cosmonauta Russo estava indo muito bem, até que um dia aparentemente normal como os outros, começou a ouvir um ruído, uma nota agonizante feito o som de uma martelada espaçada por milésimos de segundos, talvez mais, ou menos, o tempo no espaço é difícil de ser mensurado como estamos acostumados. Ele achou que o estranho barulho vinha do painel de controle. Arrancou o painel inteiro, peça por peça, mas não parava. Algum tempo depois, horas, aquilo se tornou uma tortura, e por mais que ele tentasse esquecer, pensar em outra coisa ou fingir que não estava ouvindo... O barulho seguia contínuo, inalterado. Escutava-o idêntico, no mesmo tom, em qualquer lugar do reduzido compartimento. Muito tempo depois, dias, percebeu que aquele ruído ininterrupto acabaria comprometendo sua sanidade. Enlouqueceria sozinho no espaço, vítima de um inexplicável ruído. Então pensou que a única forma de conviver com aquele som desesperador, seria se apaixonando por ele. Ele precisava se apaixonar por aquele barulho... Respirou fundo, fechou os olhos de probabilidade e entregou-se à imaginação de corpo e alma, manteve-se nesse mantra por tempo indeterminado, horas, dias, segundos... Abriu os olhos (silêncio) e lentamente, ao invés do barulho, ele passou a ouvir música. Fabuloso! Ainda lhe faltavam 25 dias para concluir a viagem. Ele seguiu desbravando o espaço extasiado de prazer pela misteriosa música que sempre sonhou escutar, mas nunca dera importância. 

(Perspectiva da Madame Tormenta)

quinta-feira, 7 de março de 2013