ENXERGAVA TUDO PRETO, PONTILHADO COMO SE TIVESSE CAIDO EM UM APARELHO FORA DO AR, CHAPISCADO CALEIDOSCÓPIO NEGRO DE VERÃO. SENTADA NO BARCO CONTINUEI IMÓVEL DE CORPO, POR QUE A MENTE TINHA A VORAZ ÂNSIA DE ESCREVER QUALQUER COISA, QUALQUER LINHA ABSURDA, DESNUDA, AGUDA , FELPUDA, CASACUDA, LÍRICA, TESUDA, CARNUDA, DUVIDOSA, ASQUEROSA, SEI LÁ...

domingo, 24 de outubro de 2010

meu e mais de 100 mil vezes teu

ilustração: Daya Gibeli


Poesia, tens um fogo raro

mexestes com o meu ego

esse monstro louco interior

fez ir para fora

grande parte desse todo algum mistério

teu corpo

fico assanhado depois me deparo

que tua boa

tua força, ó, poesia,

é bem maior.

Fico até meio sem jeito, constrangido, sei lá,

parece até que vou me apaixonar

e a fundo longe desse olhar reflito

vejo o ontem taao passado quanto o amanha que nunca vem

esse teu fogo, poesia,

sera sempre bem vindo ao mundo meu

por mais que seja fraco

esse dragao é um estilhaco

e sua guerra fez do ontem seu

um desejo eternizado

de ver todo o mundo pirar,

bunda santa,

cortejar todo o meu sem jeito sorriso

entregar-te manobras mortas

mesmo que seja o ato de ser mal compreendido

quero gozar no mundo seu pois esse mesquinho meu, eu,

pode ser mais um tormento a sua cabeceira

pode viajar em mim

lamento

nao fui tao santo assim

seu corpo pintado, desejado

demito-me poetaao lado teu

quis te comer na rua

deitei-me ao teu lado

e nu estavamos

delicia sentir o teu som e

o teu sorriso

o sono respirar, mas que profano sou

queiram as estrelas

fazer esse teu corpo de novo me atacar

e que da proxima vez seja para definitivamente pirar

fiquei pirado com os teus olhos me encarando

o idiota rebolando no dedo teu

mas que merda foi que aconteceu

sua vagina solta em minha boca

deliciosa e adorei as palavras concentradas no seu ventre, poesia, poesia

diz pra mim que nada se perdeu e ainda poderei gozar no mundo teu!

A maça que aquele principe tua obra decifrou

creio que nao é nada perto dessa tua bunda, do teu beijo

seu mel, assassina quase mel..

meus olhos gozaram-te princesa

melastes o momento que era para me levar ao sono

e teu som

é meu desejo agora

de que jeito?

do jeito que voce quiser

pode ignorar o meu olhar sempre assediado pelo teu

pode nas ruas querer somar a parte

sei que em nada agente deu

vai dá pra dar?

denovo vou te encontrar, querer te devorar

te chupar, teabraçar, te comer

te desejar o infito verbo

num ataque epilético talvez

no inexplicavel fogo que adotará a poesia

frase feita vai ser o cheiro do meu gozo, do nosso, do teu

sua autoria, poesia,

minha estrutura no umbigo teu queimando

o cheiro e nada meu, nada meu

todo teu até enjoar

aparte das migalhas que te peço

beijo teu, fogo teu, corpo teu

de aluguel

a poesia, aa poesia,

gozo ofusco

meu ou teu,

tanto faz e tanto vai

e vem

quero mais de 100 mil vezes

ter esse sexo, amor, calor, desejo,

o sabor

mais chocante e mágico e vermelho de todos

mel mel mel.



sugestão de sincronismos: Astúrias de Isaac Albéniz

Direitos autorais: esse texto não é meu!! Não coloque palavriados na minha boca... Foi jogado numa lixeira e reciclado para gozar literalmente a vida

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quinta-feira, 21 de outubro de 2010

velha luta da cidade

muito cansada... entrou no ônibus arrastada por brisa mórbida e sutil. Algo de lento acontecia com seu metabolismo. Era a síndrome do dia-a-dia, hora-após-hora, corre-corre-desenfreado-dasruas; tudo junto num mesmo vendaval de robóticos homens. Ela girou a catraca cheia de esperanças de chegar
O ônibus lotadíssimo. Pessoas grudentas, mareadas. Vai e vem de corpos involuntários. Ao ultrapassar barreiras intransponíveis de carne fresca, subitamente estava diante de uma miragem, verdadeiro oásis iluminado pela amarelada luz de ônibus. Dois acentos brotaram à sua frente nitidamente sky blue. Glória! Ela desconfiou. Olhou de sombrancelhas arqueadas para todos em volta, por quê? Por que isso aconteceria justo com ela? Ela, que as coisas demoram tanto para acontecer? Nunca teve sorte em nada, nunca ganhou um brinde de dia das crianças na escola, nem sequer um bingo ou biribinha na casa da avó.

Mas é hoje!!! Hoje era seu dia, fora sorteada na roleta da vida. Os bancos eram dela, quis deitar, gritar, espernear, jogar-se desesperada de desejo, vontade, necessidade. Mas não, calma! você só precisa manter a calma garotinha. Não perca de vista a efemeridade das coisas. Sentou-se grosseiramente e pôde continuar a viagem na maior tranquilidade. As pernas enrijecidas pela fadiga agradeceram e foram sorridentes até em casa para amanhã sonhar novamente vencer alguma coisa.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Ela gostava deles, dos dois, ao mesmo tempo, no mesmo lugar, contra qualquer oceano obscuro ou sorriso alheio. As brigas não eram muitas, mas a aceitação
Ao mundo soavam três; três almas inconstantes, unidas por extremidade tripartida e ambígua.
Ela encontrava qualquer coisa de tri-Uno, onipotente de sua criação devota. A felicidade sugava-lhe como inseto esquisito, saltimbanco, emitindo sons inespecíficos... Tudo isso para abafar os sussurros, gritos incontidos, agressões de desconhecidos inconformados, as ruas cheias de malícia feições estrangulantes o medo de existir a ausência de coragem escarros cigarros tudos

Eles não!

Nasceram assim e vivem, de todo jeito, desprovidos de objeção, entusiasmados pelo vento, paixão. A vida tem outro olhar, múltiplo, criativo, indefinido, quase infantil. VIVEM!

Ela pensa, descontínua, insone, auroras vão e vem, nada... nem um motivo; por que não?
De outros tempos, amores brutos, patéticos, insalubres por sentença apedrejante
A revolução: olhava-se no espelho, mirava um rosto desconhecido e azulado, derretido, mas nada patológico; fluído, envolvente de calor e ódio. O medo de ser observada, apontada por dedos cruéis e previsíveis em sua pseudo-magnanimidade, desgraçados!.. vidas em preto-e-branco
Ela caminhava carregando na mochila o desejo de não estar sozinha, atraída por átomos redesenhados, carícias apaixonadas, confusão de mãos, ménage ad aeternum...

Eles nasceram unidos pelas costas, tinham tudo em comum, inclusive a decisão de não se separar jamais! verdadeira singularidade bifurcada, harmônica e sorridente. Sua sina era amar loucamente aquela mulher, aquela mulher cética, muitas vezes venosa e doce, pueril, deitada à sombra de não saber amar com ânsias, torcicolosamente febril
Sim! Era ela
o único desgaste, o inseto corrosivo e impune dos gêmeos, o demônio da luxúria, a serpente que devora-os subitamente quando vão beija-la...
e querem, mesmo assim a querem, do mesmo jeito que nunca quiseram separar seus corpos tomados pela lei da assimetria.
Não é perfeição
é cópula.


quarta-feira, 6 de outubro de 2010

sonhos brumos

VAI VER ESSE FILME DE NOVO?
AHHH! VAI DORMIR...

Ela tentava, mas aqueles pequenos sons não saiam da sua cabeça, como formigas que alimentam um formigueiro. As imagens eram tão reais, que lhe davam espasmos pelo corpo. "Eu tento dormir, eu juro que tento, já tentei muito, tanto, que as vezes durmo pelo cansaço... o corpo dói tanto... parece tombo de bicicleta ou aula de natação no inverno."
As sensações eram parecidas, uma de fora para dentro e a outra de dentro para fora. Um dia, vários insetos voavam em volta da lâmpada, como sempre em muitos dias acontece, mas naquele dia, naquele único dia, aquilo começou a dar uma raiva, uma ânsia... Levantou da cadeira, sentiu a presença da irmã no último quarto. Quando olhou para o fim do corredor ficou estarrecida. Pôde ver somente uma cabeça flutuante e esfumaçada...
Irmã? O que aconteceu com você?
Eu não sei. Só dá para ver minha cabeça, não é?
É sim!
Engraçado, de uns tempos pra cá, tenho sentido só ela mesmo, pesada e enorme.
Mas você está bem?
Não muito. Um pouco aérea.
Estou vendo! (olhos esbugalhados)
Está muito na cara?
Na cabeça... é... vamos dar um jeito.
Na conversa, as pernas da pequena tremiam feito duas varas verdes em tempestade. Foi então que a irmã deu um passo a frente, e ela pode ver seu corpo inteiro, inteirinho de preto, dos pés ao pescoço, até luvas e sapatos pretos, parecia esperar um ritual mórbido.
AHH! Que alívio. Achei que fosse um daqueles sonhos que tenho, mas não é.
O que?
Nada de mais... só uma viagem da minha cabeça. (uma lágrima molhando a gola)

domingo, 3 de outubro de 2010

vai que é tua...

V. das Moças... deviam ser umas 03:03 e tudo girava em círculos. Pessoas em dia de eleição, escolhendo números como quem escolhe a pasta de dente mais barata da prateleira, com receio, mas convicção no sorriso. O trocador reclamava aos trancos e barrancos da estrada, "puta que pariu não fui liberado que país é esse!!! bláblábleble", um negão doidão com seu violão cantado causos de ancestrais próximos, uma mocinha de iPod da Apple e um cego mascando chiclete... "se fosse poeta escreveria... se fosse pintor pintaria... mas como sou eu, fico só observando" (filósofo: tocador de violão, que por sinal se chamava Dido).