ENXERGAVA TUDO PRETO, PONTILHADO COMO SE TIVESSE CAIDO EM UM APARELHO FORA DO AR, CHAPISCADO CALEIDOSCÓPIO NEGRO DE VERÃO. SENTADA NO BARCO CONTINUEI IMÓVEL DE CORPO, POR QUE A MENTE TINHA A VORAZ ÂNSIA DE ESCREVER QUALQUER COISA, QUALQUER LINHA ABSURDA, DESNUDA, AGUDA , FELPUDA, CASACUDA, LÍRICA, TESUDA, CARNUDA, DUVIDOSA, ASQUEROSA, SEI LÁ...

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Quando o chocolate acaba é foda


a menina foi desligar o rádio decidida sozinha ia pra outro canto
cigarro de cravo única janela aberta
de costas o rádio tocou de novo o cigarro apagado cinza de faca alto-falante
largou a faca tapou os ouvidos com mãos enormes de medo sozinha ia pra outro canto
ruídos compassados do chão imundo de cacos escarros cores amassadas ressequidas
pássaros ensurdecedores gritavam batendo pratos de folha, o céu assim amarelo traços de laranja escorregavam macios e mornos quase água termal
involuntários ombros subiam batiam arritmados anti-música nó cabeça envergonhada
olhos fundos fúnebres de dentro encharcados, um lugar de
vai saber o querr xiiiiiii era o rádio tocou e ninguém sabe o quiiiii
um farol cinza de faca estrondou pelos ares um som gravexixxx
longa vigília perseguida pelo giz das anotações – chiado estranho
o chão escorregadio
pedra incrustada vermelho sangue destemido aterrissando sobre o tapete veloz

silêncio